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Secretária destaca desafios a serem superados para valorização da mulher
MATÉRIA 3º BOLETIM
"A luta das mulheres não é pela supervalorização, mas pela garantia da igualdade de direitos" - Secretária Lúcia Barbosa.
Em maio de 2011, o Governo do Estado da Bahia, atendendo à justa reivindicação da luta feminista e dos movimentos de mulheres, criou a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM/BA), através da Lei nº 12.212 (www.mulheres.ba.gov.br). A missão da SPM é “elaborar, propor, articular e executar políticas públicas para todas as mulheres, respeitando suas diferenças com prioridade para as mulheres em situação de pobreza e/ou vulnerabilidade social em todo o Estado da Bahia". Os eixos prioritários são Prevenção e enfrentamento da violência contra as mulheres e Promoção da autonomia das mulheres.
Desde que a Secretaria foi criada, Vera Lúcia Barbosa está à frente da pasta. Em entrevista especial para a ASCOM SEFAZ, a secretária faz um panorama da inserção feminina no mercado de trabalho e os desafios a serem alcançados através de políticas públicas para a valorização da mulher.
Sefaz - Como se deu a inserção feminina no mercado de trabalho?
Lúcia Barbosa -Podemos dizer que ainda vivemos esse processo de inserção, já que em muito precisamos avançar para considerarmos que vivemos num país com inclusão e igualdade de gênero plena no âmbito do mercado de trabalho. Temos dado importantes passos nessa questão. Alguns acreditam que o aumento da participação feminina no mundo do trabalho ocorreu em virtude da necessidade de uma complementação da renda familiar por parte das mulheres. Mas também é importante considerar o desejo, por parte delas, da conquista da autonomia econômica. Do ponto de vista do ambiente doméstico as mulheres sempre trabalharam, sendo este um trabalho não remunerado e invisível. Existe um público feminino crescente, que está se inserindo no mercado por conta do nível educacional cada vez maior, inclusive as que moram sozinhas. É importante lembrar que essa inserção não significa, necessariamente, valorização nos postos de trabalho, condução aos cargos de comando, equiparação salarial com relação à remuneração masculina, entre outras questões. Ainda lutamos pela equidade de gênero no mercado de trabalho.
Sefaz - Qual o diferencial feminino no ambiente profissional? As diferenças de gênero podem atrapalhar?
Lúcia Barbosa -É importante ressaltar que o que se busca é a igualdade de oportunidades, equidade salarial e o reconhecimento profissional. As diferenças de gênero, historicamente, tem sido determinantes na remuneração oferecida às mulheres, contando negativamente para as mesmas. A luta das mulheres não é pela supervalorização, mas pela garantia da igualdade de direitos, assim como deve ser em todas as esferas da sociedade. O aumento da participação feminina no mercado de trabalho não foi suficiente para eliminar o problema da segregação ocupacional e discriminação salarial.
Sefaz - As mulheres brasileiras representam 45,4% da população ocupada, de acordo com pesquisa do IBGE feita em 2011, mas ainda sofrem com desvantagens como a desigualdade salarial. Existe alguma política para diminuir essas desvantagens?
Lúcia Barbosa -A cada pesquisa, percebemos este aumento no número de mulheres nestes índices relativos à população ocupada. Mas, de fato, isso nem sempre tem refletido na igualdade salarial. Em média, as mulheres recebem 70% das remunerações destinadas aos homens, mesmo no desempenho das mesmas funções e cumprindo carga horária semelhante. No caso das mulheres negras, essa diferença é ainda mais acentuada. Podemos citar iniciativas importantes, como campanhas voltadas à valorização profissional das mulheres, a exemplo daquelas desenvolvidas pela nossa secretaria, além do programa voltado à autonomia, um dos eixos prioritários da nossa pasta. A Bahia também possui seu Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, do qual participam as pastas do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Políticas para as Mulheres (SPM), entre outras. Uma das iniciativas mais importantes diz respeito à tramitação no Senado Federal de projeto que deverá determinar a punição para empresas que pagarem salários diferentes para mulheres, caso essa ação seja comprovada como ato discriminatório. Essa seria outra grande conquista para as mulheres brasileiras.
Sefaz - Atualmente é possível ver mulheres atuando em profissões antigamente vistas como masculinas. A que podemos atribuir essa mudança?
Lúcia Barbosa -Essa mudança ainda não ocorre de forma tão acelerada, mas é um sinal de que, aos poucos, o país tem mudado sua concepção sobre os papéis entre homens e mulheres na sociedade. Costumamos dar como exemplo a situação da divisão sexual do trabalho no ambiente doméstico. Historicamente, o espaço público sempre foi restrito aos homens, assim como o ambiente doméstico era destinado às mulheres. Este foi o modo de organização social ao qual a maioria de nós foi submetida.
Essa realidade vem mudando, com a participação feminina cada vez mais forte em esferas tidas tradicionalmente como masculinas. Um exemplo bem próximo é o da construção da nossa Arena Fonte Nova, onde 13% do público que trabalha na obra é formado por mulheres. É igualmente importante citar a última Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) realizada na Região Metropolitana de Salvador (divulgada em 2012), na qual percebemos menores jornadas das mulheres nas áreas de serviços e no comércio, historicamente ocupada por maioria feminina. Isso pode significar a ocupação de postos, por parte das mulheres, em outros setores do mercado de trabalho. Essa mudança de valores e a visibilidade das mulheres em novos ambientes rompem paradigmas. Também é consequência de um conjunto de políticas de enfrentamento à violência sexual e social, incentivo à autonomia econômica, acesso à universidade, qualificação profissional, melhoria das condições de vida como implantação de creches, entre outras medidas.
MATÉRIA 2º BOLETIM
Fazendárias conciliam trabalho e cuidados com a família
com sabedoria, graça e leveza.
Nesta segunda matéria do Dia da Mulher concluímos os perfis das servidoras fazendárias com a apresentação de mais três colegas. São elas: a agente de tributos Graça Helena Cardoso, da Inspetoria de Fiscalização de Mercadorias em Trânsito da Região Metropolitana (IFMT-Metro); a auditora fiscal Maria da Conceição Alves, da Infaz Feira de Santana, e Aliede Ribeiro, agente de tributos da IFMT-Sul. Além disso, apresentamos também um breve histórico da inserção feminina no mercado de trabalho.
Graça Helena Cardoso
Não faltam histórias de fazendárias que se destacam em suas funções, como é o caso da agente de tributos Graça Helena Cardoso, que em 1981 ingressou na Inspetoria de Fiscalização de Mercadorias em Trânsito (IFMT) de Ilhéus, sendo a primeira mulher a desempenhar este papel na região. "Na época, as mulheres ocupavam apenas cargos internos, mas naquele ano começaram a atuar também no trânsito. Como financeiramente seria mais vantajoso, não pensei duas vezes em encarar o desafio", relembra.
A colega conta que no começo foi difícil trabalhar num ambiente essencialmente masculino e que sempre contou com o apoio dos colegas para encarar as dificuldades do trânsito. "No início fiquei um pouco assustada, mas sempre fui muito valente e ousada. Se não mostrar a nota não libero a mercadoria. A gente tem que ser rígida, colocar autoridade e postura para ser respeitada”, afirma.
Graça revela que certa vez foi chamada de incompetente apenas por ser uma mulher em uma função que é mais freqüentemente desempenhada por homens. "Uma vez quando fui vistoriar a carga de um caminhão o motorista pensou, pelo fato de eu ser mulher, que não se tratava de uma funcionária pública e não quis permitir que eu conferisse a mercadoria. Levamos o caminhão para a delegacia e depois de esclarecido ele acabou me pedindo desculpas. São situações em que precisamos ‘jogar duro’”, destaca.
Hoje, com mais de 20 anos na fiscalização de trânsito e atuando no Posto Honorato Viana, Graça diz levar as situações de maneira mais leve. “Estou mais lapidada. Perdi muitas oportunidades de conciliar o casamento com a carreira. A mulher precisa mesclar a firmeza necessária para a profissão com o lado feminino de cuidados com a família", declara.
Maria da Conceição Alves
Para a auditora fiscal Maria da Conceição Alves, que ingressou na Sefaz em 1978 e passou por diferentes áreas - como Diretoria do Tesouro, fiscalização de trânsito e comércio, e a função de inspetora Fazendária de Feira de Santana de 2007 a 2011 -, o segredo para conciliar a carreira profissional com as outras obrigações femininas é fazer tudo com amor e dedicação.
"Quando trabalhava no trânsito de mercadorias, em escala de plantão, meus três filhos eram pequenos e eu tinha que me virar para conciliar as duas coisas. Mas com equilíbrio e tranquilidade tudo se resolve. Só existe sacrifício quando não se gosta do trabalho. Com amor, tudo se faz bem, porque o trabalho é feito com alegria, com prazer. O ambiente de trabalho fica leve, os colegas se divertem e as horas passam que a gente nem vê", ressalta.
A auditora conta que nunca se sentiu desvalorizada na profissão e sempre recebeu reconhecimento, mas admite que isto é raro entre as mulheres. "Entrei em pé de igualdade com os homens, passei no mesmo concurso, exercia as mesmas atividades e nunca me senti menos reconhecida. Meus superiores sempre me apoiaram e em todos os lugares que trabalhei meus colegas homens sempre me trataram com muito respeito e carinho. É pena que na minha profissão são poucas. A grande maioria das mulheres penam em trabalhos massacrantes e com salários muito baixos", destaca.
Aliede Ribeiro
"Não acredito em diferença de gêneros, mas sim em potencial bem direcionado", afirma a agente de Tributos da IFMT Sul, Aliede Ribeiro. Há 26 anos no quadro da Sefaz, a agente enxerga de maneira positiva a atuação feminina no mercado de trabalho e diz não ter tido problemas para encarar a jornada dupla. "Quanto à família, foi uma troca de experiência salutar, pois crescemos juntos e amadurecemos, e cada fase foi enriquecida com as oportunidades aproveitadas. Considero positivo o avanço da mulher dentro desta área profissional, uma vez que temos atualmente vez e voz", acrescenta.
Histórico da inserção feminina no mercado de trabalho
Foi a partir das 1ª e 2ª Guerras Mundiais, devido à necessidade de assumir as despesas da casa quando os maridos morriam em batalha, que as mulheres começaram a se inserir no mercado de trabalho. A consolidação do capitalismo e da industrialização no século XIX fez com que as mulheres fossem empregadas na mão de obra fabril, normalmente com extensas jornadas de trabalho e baixos salários.
Após muitas lutas, as mulheres foram adquirindo direitos e conquistando seu espaço. Como exemplos temos a greve de funcionárias de uma fábrica têxtil de Nova York, em 8 de março 1857 - em que 129 mulheres morreram carbonizadas após o dono trancá-las dentro da fábrica e atear fogo, acontecimento que originou o Dia da Mulher – e a queima de sutiãs das feministas americanas em 1968.
No Brasil, a inserção da mulher no mercado de trabalho se deu desde o início do processo de industrialização. A partir da década de 70 houve um crescimento significativo do número de mulheres que desempenhavam alguma atividade remunerada. A década de 1990, por causa da intensa abertura econômica, investimentos baixos e terceirização da economia na década, veio consolidar cada vez mais a caminhada profissional feminina.
MATÉRIA 1º BOLETIM
Na próxima sexta-feira, 8 de março, será comemorado o Dia Internacional da Mulher. Como forma de homenagear as 1.129 servidoras que trabalham na Secretaria da Fazenda, de hoje (6) até o dia 8 serão enviados boletins com matérias especiais que buscam mostrar a importância feminina para a sociedade, para a Sefaz e o histórico de luta das mulheres para inserção e reconhecimento no mercado de trabalho.
Confira o texto do primeiro Boletim:
Com profissionalismo e sem esquecer os cuidados com a família, as mulheres já representam 45,4% do mercado de trabalho no Brasil. Na Sefaz, elas somam um total de 1.129 servidoras
Além de exercerem o papel de esposas, mães e muitas vezes donas de casa, as mulheres precisaram de muita dedicação, profissionalismo, competência e jogo de cintura para provar que são capazes e obter seu espaço no mercado de trabalho. De acordo com pesquisa divulgada pelo IBGE em 2012, a presença feminina no mercado é de 45,4% da população ocupada, o que significa um crescimento de 2,4 pontos percentuais em relação a 2003. Pesquisas realizadas pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) revelam que no período entre 2001 e 2011 o número de mulheres ocupadas na Bahia registrou um aumento de 3,4%. Em Salvador, esse número é de 46% da população ocupada.
Uma edição especial da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Salvador (PED/RMS) para retratar a situação da mulher no mercado de trabalho, realizada em 2008 pela SEI, revelou aspectos importantes sobre o perfil das mulheres empregadas. Mulheres sem cônjuges e com filhos apresentaram a mais elevada inserção no mercado de trabalho, com taxa de participação de 64% em relação às demais. De acordo com a pesquisa, isto acontece porque as mulheres chefes de família, que são as únicas responsáveis pelo sustento da casa, tem uma necessidade maior de estarem empregadas.
Em contrapartida, mulheres com filhos pequenos encontram maiores dificuldades para conseguir emprego. Esse obstáculo se dá pelo fato de não conseguirem um posto que lhes permitam conciliar as funções de mãe e de responsável pela casa e pela pouca oferta de vagas. Geralmente os empregadores associam, de forma discriminatória, a contratação de mulheres mães e em idade reprodutiva a maiores gastos com encargos trabalhistas.
Os inúmeros desafios a serem enfrentados não são suficientes para impedir que a cada dia as mulheres se consolidem mais em suas carreiras. Na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia a participação feminina é crescente e fundamental para o bom desempenho da administração estadual, com um total de 1.129 servidoras.
Teresinha Carvalho
A auditora fiscal Teresinha Carvalho, hoje atuando como analista de negócios do Fiplan - Sistema de Planejamento, Contabilidade e Finanças do Estado da Bahia, iniciou sua carreira na Sefaz na Inspetoria de Ilhéus e já ocupou cargos de gestão na Secretaria, inclusive como diretora do Tesouro. Ela revela que unir o cuidado com os filhos e a carreira profissional foi uma das principais dificuldades enfrentadas.
"Com dois filhos, casa e marido, as tarefas são muitas. Com uma carreira então... Muitas vezes precisei priorizar aspectos profissionais com racionalidade justamente para poder oferecer suporte à minha família. Foi bastante cansativo, principalmente quando as crianças ainda eram bem pequenas", afirma.
Teresinha acredita que as diferenças de gênero não são suficientes para atrapalhar o bom desempenho profissional e revela que já ocupou cargos de chefia impondo seu ritmo de gestão, sem que tivesse empecilhos por ser mulher. "Mulheres são administradoras por natureza. Sabem quase que intuitivamente organizar a casa, a família, as finanças. São guiadas para a sobrevivência, para a não acomodação. Têm um poder de adaptação excepcional, defendem sua cria e vão à luta. Com estudos e treinamento específicos, revelam um alto potencial para o emprego, pois são organizadas, criativas e atentas a detalhes", pontua.
Para as mulheres que desejam seguir carreira profissional, a analista do Fiplan deixa a dica. "Apesar do cansaço que acompanha esta jornada, não consigo mais imaginar, nos dias atuais, o modelo de sociedade em que as mulheres se limitavam à condição de dona de casa. Há um universo de possibilidades e nenhuma delas deve se furtar a isso. As mulheres são verdadeiras heroínas e vencedoras, que conquistam a condução da própria vida com liberdade e independência", diz.
Sandra Regina Souza
Há 39 anos na Secretaria da Fazenda, a técnica administrativa Sandra Regina Leal de Souza nunca trabalhou em outro órgão. Iniciou sua trajetória com apenas 17 anos, como estagiária na microfilmagem, sendo contratada em 1982 e assumindo provisoriamente alguns cargos de chefia.
Para Sandra, as diferenças de gênero jamais a atrapalharam no ambiente de trabalho. Pelo contrário, só somaram. "O maior diferencial é justamente a nossa grande capacidade de administrar com sabedoria, com graça, com leveza e extraordinário senso de responsabilidade que nos é peculiar", ressalta.
A técnica administrativa diz não acreditar que as mulheres recebam menos reconhecimento que os homens, e que "a maior prova é a nossa Presidenta", mas admite não ser fácil administrar a jornada dupla. "Atualmente esse tabu já está sendo derrubado, as mulheres estão entrando com tudo no mercado de trabalho, se especializando, estudando muito, e estão sendo muito bem recebidas. Não foi, não é e nunca será uma tarefa fácil conciliar a carreira profissional com as atividades domésticas, mas é administrável. A prova maior é quando olhamos para nossos filhos, já criados, formados, e nos orgulhamos", destaca.
Sandra conta que a força para exercer os diversos papéis femininos foi herança de sua mãe. "Me orgulho muito das mulheres que conseguem desempenhar essa jornada dupla e não perdem o profissionalismo. Tenho um exemplo desse na minha vida, a minha saudosa mãe, que era auditora fiscal da Sefaz, pedagoga, e mãe de cinco filhos. Ela conciliava todas esses funções sem jamais perder o foco no seu trabalho", lembra.
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