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Bezerra, colega do Consef, lança livro sobre a história de Lampião
Confira a capa do livro
Com 36 anos de Sefaz e 48 de serviço público, o fazendário do Conselho de Fazenda Estadual (Consef), José Bezerra Lima Irmão, ou Zé Bezerra, como é normalmente chamado pelos colegas, já é bem conhecido na Secretaria. E agora os servidores poderão ter contato com o seu outro lado, que inclui a vocação para pesquisador, historiador e escritor, o que mostra o quanto esse sergipano, do povoado de Alagadiço, é apaixonado pela história do Nordeste e de um dos seus personagens mais famosos e polêmicos: Lampião, tema do seu novo livro.
Com lançamento previsto para maio, “Lampião – A Raposa das Caatingas” sairá a princípio com uma tiragem de mil exemplares. O fazendário está se articulando para fazer os lançamentos oficiais na Bahia e em Sergipe, em locais ainda em fase de negociação. Mas os colegas que quiserem adquirir a obra podem entrar em contato pelo e-mail josebezerra@terra.com.br. “Será um prazer saber que os colegas estão lendo o meu livro, fruto de onze anos de empenho, em meio às minhas atividades de rotina”, afirma. José Bezerra é o servidor retratado em mais uma edição das matérias especiais sobre os “Nossos talentos”.
Lampião, uma raposa na caatinga
Durante onze anos José Bezerra dividiu o seu tempo entre o trabalho na Secretaria da Fazenda e a elaboração do livro. O interesse sobre o tema surgiu quando ele foi convidado por uma conterrânea sua de Sergipe, Bernadete dos Santos, a escrever o prefácio de um livro que ela iria lançar sobre o povoado de Alagadiço, onde os dois nasceram e foram criados. Uma das partes contava a história de um cangaceiro conhecido na região, Zé Baiano. O fazendário se animou tanto que decidiu escrever também sobre o cangaceiro mais famoso do Nordeste, Lampião.
“Acho que as histórias do cangaço ficaram em meu subconsciente. Durante a minha infância no sertão de Sergipe ouvi muito sobre isso”, diz. Bernadete faleceu antes da obra sobre Alagadiço ser lançada e Zé Bezerra, como forma de homenagear a amiga, juntou algumas economias, mandou imprimir dois mil exemplares e deu de presente à população do povoado.
A respeito do título do seu livro, “A Raposa das Caatingas”, ele faz referência ao antigo marechal de campo do exército alemão durante a segunda guerra mundial, Erwin Rommel, conhecido como a “Raposa do Deserto” em função da sua audácia e domínio das táticas de guerra. Ele ficou mundialmente famoso por sua intervenção na África, entre 1941 e 1943. Para José Bezerra, essa comparação é possível porque “Lampião era uma raposa matreira que, ou por méritos próprios ou por incompetência dos governos, durante 17 anos percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete estados”.
Pesquisa incansável
Para José Bezerra, a história do Nordeste resume-se basicamente a três personagens: Lampião, Padre Cícero e Antônio Conselheiro. Na obra de 740 páginas, fruto de uma pesquisa incansável, o autor buscou ordenar, de acordo com a sequência lógica e temporal dos acontecimentos, tudo que foi possível apurar sobre o guerrilheiro do Pajeú. Ele adotou o método etnográfico de pesquisa de campo, valorizando a história oral, mas sem descuidar da pesquisa bibliográfica e da consulta aos jornais e revistas da época e aos autos de processos e documentos oficiais.
“Existe muita coisa escrita sobre o cangaço no Nordeste e em especial sobre Lampião, mas é preciso ter cuidado porque há muita lenda. Alguns autores tiveram acesso a informações valiosíssimas, mas não souberam o que fazer delas. Uns se limitam a contar fatos esparsos, narrados à medida que os assuntos vão sendo lembrados, ao acaso, embaralhados, sem nenhum encadeamento temporal ou lógico. Outros cuidam apenas de fatos ocorridos em certa fase histórica, em determinado espaço geográfico, em determinadas circunstâncias. Quase sempre os fatos são narrados sem citar fontes, sem precisar datas, sem apontar lugares”, afirma.
De acordo com o fazendário, foram enfrentadas algumas dificuldades durante a elaboração da obra. Por exemplo, as fontes primárias sobre Lampião estão desaparecendo, já que as pessoas que o conheceram já morreram quase todas. Além disso, os documentos escritos e os jornais da época do cangaço são de modo geral muito mal conservados e estão se deteriorando, sendo que muitos já foram inteiramente destruídos ou perdidos.
Durante a apuração dos relatos obtidos nos livros consultados, o autor se deparou com inúmeras contradições e equívocos, e para tirar dúvidas fez muitas viagens – mais de trinta. “Estive em quase todos os lugares referidos nos relatos do cangaço, percorrendo caminhos até hoje praticamente intransitáveis, subindo serras, atravessando riachos, dormindo em fazendas e até em aposentos onde estiveram os cangaceiros e os homens das volantes, entrevistando antigos moradores, parentes dos cangaceiros, parentes dos soldados, parentes das vítimas. A alguns desses lugares tive de voltar várias vezes, pois à medida que aclarava certos pontos surgiam novas dúvidas. Dediquei tempo considerável à pesquisa em arquivos públicos, cartórios, museus, arquivos paroquiais, bibliotecas e institutos históricos e geográficos. O desafio maior foi a depuração dos fatos, passados tantos anos”, explica.
Para contar a história de Lampião, pernambucano nascido em 1898, José Bezerra procurou analisar os fatos sem paixões, da forma mais objetiva possível e dando margem a que o leitor tire suas próprias conclusões. Segundo ele Lampião não foi herói nem bandido, foi um cangaceiro. “Não é justo pintar Lampião como um monstro. Mas também não adianta querer retratá-lo como bonzinho. Nada de extremos. Afinal, todo maniqueísmo é perigoso. Virgulino Ferreira foi simplesmente um sertanejo à moda do seu tempo, um tempo ‘brabo’ em que o sujeito, para ser respeitado, tinha de mostrar que era cabra macho, e para isso era preciso honrar cada letra do que dizia, fosse para o bem, fosse para o mal”, salienta.
Em sua obra, é apresentado todo o contexto do Nordeste da primeira metade do século XX, uma terra de cangaceiros, na qual era comum políticos tirarem fotos vestidos tal qual cangaceiros e juízes que dispunham desses sertanejos para fazer cumprir suas sentenças. “Não se pode interpretar o passado com os olhos do presente. Para se saber quem foi Lampião, é preciso situá-lo no contexto social de seu tempo e no espaço geográfico em que ele viveu. Só assim, situando-o nas dimensões dos espaços físico e temporal, é possível compreender e julgar esse personagem que terminou sendo o símbolo de uma época no sertão nordestino”, afirma.
Após apresentar toda a história de Lampião em ordem cronológica, relatando fatos e personagens que conviveram com Virgulino Ferreira, José Bezerra encerra seu livro com mais uma significativa contribuição para o Nordeste. Ele refez a árvore genealógica de 48 famílias da região e que tiveram importante participação na construção da história dos nordestinos. Em seu conjunto, “Lampião – A Raposa das Caatingas”, um trabalho de 740 páginas, mostra no que a conjunção das palavras esforço, dedicação e perseverança podem resultar.
Perfil
José Bezerra ingressou na Sefaz em 1978, no primeiro concurso para auditor fiscal do estado, ficando em segundo lugar. É autor dos regulamentos do antigo ICM, do ano de 1981, e também do ICMS, escrito em 1997. Antes de ingressar na Sefaz, já exercia a função de fiscal de rendas em sua terra natal. Na secretaria passou pela Diretoria de Tributação (Ditri), unidade da qual foi diretor, e na fiscalização de estabelecimentos trabalhou nas antigas inspetorias de Santo Antônio e São Pedro, localizadas em Salvador. Durante o período em que esteve na Ditri, em razão da experiência adquirida na elaboração do código tributário de Sergipe, foi convidado para elaborar o Regulamento do ICM e, anos depois, do ICMS. Desde 1997 está no Consef, como julgador da 2ª Junta.
Pai de dois filhos, formado em Economia e em Direito, Zé Bezerra tem outra obra pronta para ser lançada, resultado da monografia feita durante a especialização em Direito Tributário. Com o nome “Natureza Jurídica da Isenção Tributária”, o trabalho mostra a diferença entre imunidade, diferimento, isenção, redução da base de cálculo, não incidência e outras figuras que, segundo ele, são muito utilizadas de maneira equivocada.
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